Resenha: O Diário de Anne Frank
Em 12 de junho de 1942, Anne estava fazendo 13 anos. De aniversário ganhou um belo caderno, um diário, que passou a ser seu grande companheiro de conversas e pensamentos. Para tornar a escrita mais interessante, Anne deu um nome a seu diário, Kitty, para assim passar a tratá-lo como a uma amiga, e os escritos diários seriam como cartas endereçadas à amiga.
“Quem mais, além de mim, vai ler estas cartas?” (FRANK, p. 181)
O diário foi escrito entre 12 de junho de 1942 e 1 de agosto de 1944, durante a Segunda Guerra Mundial; passando a ser não somente um dado biográfico da vida de Anne, como um dado histórico sobre a situação da Holanda durante o tempo da guerra. O mais impressionante do livro é que se trata de Anne Frank uma garota judia, que durante esses anos de guerra precisou viver escondida das autoridades e de qualquer pessoa a favor do governo, uma vez que o povo judeu vivia o pior momento da história moderna, sendo perseguidos e assassinados pelo estado nazista, naquela época com poder e ascensão na Europa.
O diário compreende assim todo o tempo em que Anne precisou viver escondida, desmascarando os horrores a que os judeus foram submetidos: alimentação precária, impossibilidade de sair na rua, abrir a janela, ter roupas decentes, ter uma vida social. Em dois anos vividos em cativeiro, Anne cresceu, mudou seu corpo, desenvolveu seu pensamento e sua sexualidade. E esse turbilhão de mudanças na vida dessa menina se condensa nessas páginas, que nos são recebidas apenas como aquilo que são: Resistência!
As palavras simples de Anne, seus pensamentos e seus dias soam hoje como uma arma contra toda a repressão pelo que o povo judeu foi submetido. Desmascaram aqueles que ainda negam os acontecimentos da guerra, Confrontam aqueles que não querem pensar sobre o assunto.
“Espero que você seja uma grande fonte de conforto e ajuda” (FRANK, p. 19)
A história de Anne é impressionante por vários motivos, muito lúcida, Anne questiona as atitudes dos pais e dos adultos que passam a morar com ela. A relação desses adultos com as crianças, com a política, com o medo e com o próprio confinamento.
“A resposta delas, claro, foi que eu não deveria me meter nesse tipo de conversa. Os adultos são tão idiotas! Como se Peter, Margot, Bep e eu não tivéssemos os mesmos sentimentos. […] Não deixam que tenhamos opinião! […] Não se pode proibir ninguém de ter opinião, não importa se a pessoa é muito jovem!” (FRANK, p. 249-250)
O último relato do diário data de 1 de agosto… em 4 de agosto, Anne e o grupo de pessoas que estavam escondidos com ela foram presos e enviados a diferentes campos de concentração. Os campos funcionavam como uma espécie de prisão, porém os prisioneiros eram submetidos a péssimas condições de vida, fome, tortura e trabalho forçado. Mais de 90% das pessoas enviadas a esses campos eram judeus, e eram ali enviados simplesmente por esse motivo. Anne provavelmente faleceu nos primeiros meses de 1945 em Bergen-Belsen, pouco antes de completar 16 anos. Estima-se que mais de 70 mil pessoas tenham falecido nesse campo entre os anos de 1941 e 1945. É uma história horrível de se lembrar, mas muito importante que nunca se esqueça. Todo o horror conduzido a um povo deve ser lembrado para que possamos lutar contra o preconceito de toda espécie, infelizmente ainda presente em nossa história.
O diário de Anne Frank foi encontrado por Miep Gies e Bep Vozkuijl, secretárias que trabalhavam no prédio que serviu de esconderijo para a família de Anne. Depois do fim da guerra, Miep devolveu os manuscritos a Otto Frank, pai de Anne, e único sobrevivente da família. Otto publicou o diário como livro em 1947 e desde então Anne se tornou mundialmente conhecida. Seu diário já foi traduzido para mais de 67 línguas, várias vezes retratado em filmes e documentários, é um dos livros mais lidos no mundo!
Os manuscritos de Anne estão hoje expostos na Casa de Anne Frank, em Amsterdã (Museu Casa localizado no mesmo prédio que foi esconderijo da família) e fazem parte do Programa Memória do Mundo da UNESCO. Todos os direitos do livro pertencem à Fundação Anne Frank (AFF) na Basiléia, Suíça, uma fundação sem fins lucrativos que promove trabalhos de caridade, colaborando para um melhor entendimento entre as religiões, culturas e diversidades mundiais.
Título: O Diário de Anne Frank
Autor: Anne Frank
Editora: Record
Número de Páginas: 414
Ano de Publicação: 2014
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