Tempo de qualidade

por Akotirene Sylla

Há muito tempo atrás eu conheci o termo “Tempo de Qualidade” associado a uma das cinco linguagens do amor, defendido pelo americano Gary Chapman em seu livro lançado em 1992. Após a chegada da maternidade em minha vida, eu passei meses brigando com o tempo. Sou tipicamente uma mulher contemporânea que quase enlouquece tentando ser perfeita em tudo, mesmo com instrução suficiente para acreditar que o perfeito não existe. Inconscientemente, eu lutava dia após dia para ter mais tempo com minha filha, queria me dedicar mais tempo ao trabalho após a licença maternidade, desejava ter mais tempo com o marido, amigos e para mim mesma. Nunca consegui abrir mão de nada, porque acreditava ( e ainda acredito) que a maternidade deva acrescentar ao invés de me limitar ao único e exclusivo papel de mãe. Tentei levar a vida igual equilibrista, girando vários pratos ao mesmo tempo. Alguns caindo, outros suspensos, bem mais ou menos, e eu me sentido cada vez mais uma péssima mãe, funcionária, esposa e mulher. Verdadeira caos.

Um dia relembrei o termo “Tempo de Qualidade” quando minha filha abriu um sorriso inesperado ao me ver sentada no chão brincando  com ela. Fazia muito tempo que eu não me dedicava assim. Eu limpava, comprava os itens que ela precisava, cozinhava,  mas poucas vezes o meu foco estava exclusivamente na minha filha. Neste dia a atividade nem durou muito tempo, mas foi o suficiente para me fazer buscar aqueles instantes de afeto e aquele sorriso lindo mais vezes.

O tempo de qualidade é aquele momento em que você escolhe se dedicar a alguém, seja durante 1 hora, 20 ou até 5 minutos.

Nenhuma mulher é mais mãe do que a outra. Não existe formula mágica, nem plano perfeito. O equilíbrio é um norteador para que possamos aumentar as nossas chances de satisfação com relação aos cuidados e criação dos filhos.

Antes de ser mãe, eu sou mulher, com minhas próprias ambições, desejos e sonhos. Se com a chegada da minha filha eu quisesse mudar o rumo da minha vida, Ok, mas se eu desejar continuar crescendo profissionalmente, sem desistir dos meus sonhos antigos, tudo bem também. A questão maior é: como incluir a atenção que nossos filhos tanto necessitam dentro de um dia tão corrido que é a vida da mulher contemporânea.

Se você precisa trabalhar manhã e tarde, reserve um tempo para brincar a noite com o seu pequeno(a), conte uma história antes dele(a) dormir. Se você trabalha o dia todo, que tal separar alguns domingos para fazer um passeio ao ar livre. Se as tarefas dentro de casa são muitas, inclua os filhos na arrumação, enxugar os talheres, colocar o lixo pra fora.

Atitudes simples podem transformar a nossa vida e principalmente a nossa relação com os filhos.  A minha mãe trabalhava três turnos, mas sempre separava cinco minutinhos antes de sair para escrever um bilhete dizendo o quanto nos amava. Esses eram os cincos minutos que ela tinha, e eu me sentia amada e lembrada ao levantar de manhã mesmo com sua ausência física. Tempo de qualidade pode ser adaptado a inúmeras realidades. O que os nossos filhos mais desejam é se sentir amados, acolhidos e lembrados. Demonstre o seu amor com o que a vida tem de mais preciso: o tempo.