Entrevista com a poetisa Denise Bulgarelli
por Ana Cláudia Dias Rufino
Hoje vamos bater um papo com a Denise, poderia por favor se apresentar professora?
Olá, Ana! Olá, todos e todas. Eu sou Denise Bulgarelli, sou mineira de Belo Horizonte. Doutora em Matemática e professora da UFMG. A minha família e amigos são alicerces de vida para mim.
Denise, mas como foi que a poesia entrou em sua vida? Você já escreve há muito tempo?
Não sei dizer exatamente quando a poesia entrou na minha vida, é como se a poesia sempre fizesse parte dela. Na casa dos meus pais tem muitos poemas meus espalhados em folhas e um caderninho simulando um livro de poemas. Eu era uma menina cheia de sonhos, quando escrevi e montei esse caderninho. Falar sobre esse caderninho é uma história. Agora, como a poesia entrou na minha vida na pandemia também é outra história. Resumindo, tudo começou com uma foto de um trem em gramado, que eu ganhei de aniversário. A foto me fez pensar no meu bisavô italiano chegando no interior de Minas Gerais. Ele não veio ao Brasil começar de novo, ele veio começar o novo. Além disso, era o meu aniversário e eu precisava começar o novo; e assim escrevi o meu primeiro poema na pandemia, intitulado “Começar o Novo”. E a partir desse poema acompanhado de uma foto, eu não parei mais de escrever com fotos minhas e de 6 amigos. Falar também dos amigos e novos amigos, que me cederam as fotos para o livro Um novo olhar, começar o novo é uma outra história.
Que incrível saber que na sua infância você já tinha feito um livrinho só seu. Tem alguma poesia dessas da infância que foi revisitada nos tempos atuais?
Eu só tive contato de novo com esse livrinho agora no dia 8 de janeiro de 2022, embora os meus pais tivessem me falado dele logo que comecei a escrever poemas na pandemia. Ainda não revisitei exatamente os poemas para a minha escrita atual, mas o processo de ter construído esse livrinho sim. O título do livrinho e a menção a esse livrinho estão presentes agora em um dos livros de poemas e fotos que estou escrevendo. Vem mais novidade por aí. Toda a história de alguém é constituída por muitas outras histórias. Essa é mais uma história dentro da minha história e é muito significativa para mim.
Falando agora sobre o livro Um novo olhar, começar o novo é muito impressionante a sua relação com a imagem e a poesia, eu acredito que isso também contribui para o livro ter ficado tão bonito, fala do seu íntimo, mas também daquilo que é comum a todos nós. Fala um pouco mais sobre seus amigos que ajudaram com as imagens… eles começaram a te enviar fotos já pensando nos poemas? Como você acha que a escrita dos poemas também impactou a fotografia deles?
Na maioria das vezes eu via uma foto deles e me vinha a inspiração. Às vezes eu tinha uma ideia e pedia a eles um determinado tipo de foto. Foi uma construção de conversas, de afinidades. O processo tinha que ser leve e compartilhado.
Eu não sei exatamente o que a escrita dos poemas impactou na fotografia deles, não conversamos sobre isso ainda; mas a certeza que eu tenho é que todos eles já tinham um olhar muito especial para a fotografia.
Mas o livro também tem várias fotografias suas neh Denise… fala um pouco mais desse processo das suas fotografias.
Assim como muita gente, sempre gostei de registrar as viagens em fotos. Claro que não imaginava que seria dessa forma. Na pandemia, comecei a resgatar algumas fotos que me traziam inspiração. Algumas eram um poema só de olhar, e muitas delas era mesmo só para viajar com o olhar, não vinham palavras. Além de resgatar fotos de viagens anteriores, comecei a registrar o que estava ao meu redor, na minha casa e o que eu avistava fora dela. Tudo isso, com um novo olhar. Eu também deixei a minha casa bem florida na pandemia, eu precisava dessa energia, e isso me fez fotografar muito. E juntando tudo isso, fui procurando o melhor ângulo, melhor luz, mas ainda preciso aprender muita coisa sobre a arte de fotografar. Estou começando a tatear esse caminho também.
Seus pais escrevem? Eles te incentivavam a escrever?
Lembro mais das escritas dos meus pais, quando estava fazendo o mestrado e o doutorado em Matemática na PUC-Rio. Morei um bom tempo no Rio de Janeiro, e eu e os meus pais nos comunicávamos muito por carta. Sempre achei as cartas escritas e enviadas pelo correio um puro charme. Tinha dias em que eu não tinha tempo de telefonar para eles em um horário razoável e escrever cartas passou a ser um hábito bom e terapêutico. Essa semana mesmo, eu estava lendo algumas dessas cartas. Mas com relação ao ambiente motivador familiar, com certeza eles tiveram influência no meu gosto pela escrita. A minha mãe contava histórias que pareciam reais. Eu fui todas as princesas quando criança, Branca de neve, a Bela adormecida, a Rapunzel… Claro que muitas vezes deixei a imaginação tomar conta e dava vontade de escrever. Amava ler poemas, brincar de teatro e ir ao teatro e ao cinema. As artes participavam da minha vida familiar como algo que te acrescenta valores humanos. Sempre que dava, íamos assistir peças teatrais, filmes no cinema, leitura de livros em casa, e escutavam com carinho os poemas que eu escrevia. Tenho muito orgulho desse legado intelectual recebido da minha família e de ter uma tia do lado materno que é escritora, com certeza ela me influenciou bastante. Falar sobre essa tia querida é uma outra história. Muitas escritoras me influenciaram também, não exatamente na maneira com que eu escrevo, isso eu ainda não consigo medir, mas na abertura da possibilidade e da coragem de me expressar na escrita, compartilhando com todas as outras paixões que a vida nos apresenta.
Qual a diferença de escrever um livro acadêmico para um livro de poesia?
Para a escrita do livro de poesia, encontrei a inspiração dos conteúdos dentro de mim, dos meus sentimentos, da minha percepção com relação ao que as pessoas estavam sentindo, dentro da maneira com que eu vejo a vida. Para a escrita dos livros acadêmicos dos quais participei, o conteúdo foi escolhido dentro do que já estudei, dentro da minha formação acadêmica, das minhas experiências e análises sobre o assunto específico e nas interações com os colegas da área. E com certeza, para a publicação de um livro acadêmico além da revisão ortográfica no idioma escolhido, o material tem que ser analisado por um conselho editorial que avaliará a relevância e competência do assunto tratado.
É fato que sou apaixonada pela construção dos dois tipos de livros. Os dois te levam a uma interiorização e a análise de etapas a serem escritas.
E como surgiu a ideia de publicar seus escritos?
Quando eu comecei a escrever na pandemia, abri uma pasta no google drive para compartilhar as fotos e poemas com os amigos que me enviavam fotos. Abri um arquivo chamado desenho, não queria que fosse encarado como uma obrigação. Evitei o nome projeto. Lá eu escrevi o que se passava na minha imaginação sobre a escrita de poemas com as fotos. Registrei que algumas pessoas incentivavam a publicação de um livro e que diziam que levaríamos palavras com cor para um mundo que estava muito cinza. Eu tinha certeza de que eu queria amadurecer a ideia de espalhar o que estava sendo construído, pensei até em poemas em folhas soltas enroladas com fitinhas. Colocar no Instagram foi o primeiro passo desse contato com leitores fora de um grupo mais próximo. Mas o que me marcou como uma possibilidade real da publicação do meu primeiro livro de poemas no formato dele agora, foi quando o professor de música do meu filho perguntou se eu tinha já pensando em publicar um livro. Ele elogiou os poemas e as fotos e disse que o livro ficaria maravilhoso. Foi bem motivador.
Fico feliz demais de ouvir isso! E como foi ver o livro enfim pronto? Qual a sensação?
A sensação está sendo maravilhosa. Me pego muitas vezes lendo os poemas e viajando nas fotos. Eu penso: UAU! foi tudo muito lindo e merecia um livro lindo!
Como as pessoas reagiram a essa ideia da nova Denise poetisa?
Algumas pessoas da família sabiam que eu já tinha uma queda por escrever poemas, mas muitas não sabiam. O retorno foi acolhedor. Os amigos de longa data e os novos amigos me apoiaram. Muitos dos meus alunos e ex-alunos da área das exatas me apoiaram também. Esse apoio, recebido por todos eles, foi muito importante para mim. Eles não têm ideia de como me senti abraçada pelas palavras carinhosas que recebi pelo WhatsApp e pelo direct do Instagram.
E como você tem reagido a essa nova perspectiva, de ser escritora?
Confesso que me expor com essa nova perspectiva de ser escritora foi uma decisão pensada por alguns meses. Valeu demais começar esse caminho e dedico esse momento às portas abertas pela arte.
Muito obrigada por bater esse papo com a gente. Está sendo um prazer fazer parte deste projeto lindo que é o seu livro de poesias.
Eu que agradeço a oportunidade de falar sobre esse momento de encanto e com os pés no chão. Em outras palavras, livro na mão.
Denise, parabéns pelo lançamento do seu livro! Adorei a entrevista.
Sucesso sempre para você!